UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
DEPARTAMENTO DE PARASITOLOGIA, MICROBIOLOGIA E
IMUNOLOGIA
Pollyanna Amaral Salvador
PAPEL DA OBESIDADE INDUZIDA POR DIETA HIPERLIPÍDICA NO
DESENVOLVIMENTO DE CARCINOMA MAMÁRIO EXPERIMENTAL
JUIZ DE FORA
2014
POLLYANNA AMARAL SALVADOR
PAPEL DA OBESIDADE INDUZIDA POR DIETA HIPERLIPÍDICA NO
DESENVOLVIMENTO DE CARCINOMA MAMÁRIO EXPERIMENTAL
Dissertação de Mestrado do Curso de
Pós-Graduação em Ciências Biológicas,
na área de Imunologia e Doenças Infecto
Parasitárias, para obtenção do título de
Mestre em Ciências Biológicas, na área
de Imunologia e Doenças Infecto
Parasitárias.
Orientadora: Profª Dra. Jacy Gameiro
Juiz de Fora
2014
“Não é porque certas coisas são difíceis que nós não
ousamos. É justamente porque não ousamos que tais
coisas são difíceis.”
Sêneca (filósofo romano, 4 aC – 65 dC).
AGRADECIMENTO
Costumo dizer que Deus sempre coloca pessoas muito boas em meu
caminho.
Para começar, Ele permitiu que eu viesse a esse mundo como membro de
uma família maravilhosa. Meus pais, Paulo e Helena são exemplos de honestidade,
garra e dedicação. Meu irmão, Paulo Henrique, sempre paciente, sereno e dono do
abraço mais acolhedor que possa existir. Meus “primirmãos”, meus tios, meus avós,
o nosso Melo... Companheiros de farras, de goles, de choros, de orações. Vocês
são a base de minha vida! A vocês, meu amor incondicional!
Com a vinda para Juiz de Fora, novos caminhos se abriram e fui mais uma
vez presenteada. A faculdade de Biologia me rendeu irmãos de alma, com os quais
muito aprendi aos quais muito devo. Leda Lucinda (Ledinha), Nicolli Bellotti, Patrícia
Duarte (Paty), Thiago Pereira (Patrick), Michelle Fernandes, Maria Elena de Castro
(Leninha)... Apoio, companheirismo, conselhos, puxões de orelha e a certeza de
muitas risadas nestes 10 anos.
Ao me formar, do CBR/UFJF, ousei alçar um voo ao Rio de Janeiro. E no
INCa/MEDEX, recebi um novo presente. Posso dizer que tudo o que lá aprendi faz
parte dos tijolos fundamentais desse projeto ora denominado dissertação. À
professora Adriana Bonomo, agradeço pelo apoio e por ter me mostrado, pelo sim e
pelo não, o que é ser um pesquisador. A Suelen Perobelli, agradeço por ter feito
com que meus dias no Rio fossem um tanto quanto “mineiros”. Aos amigos
“cariocas” devo agradecer pelos momentos felizes que vocês me proporcionaram na
“Cidade Maravilhosa”.
Seguindo os impulsos do coração, do Rio de Janeiro aterrissei, literalmente,
na Imuno JF, sendo novamente presenteada. Jacy, sem pestanejar, me acolheu de
braços abertos, me ofereceu seu ombro amigo, seu colo de mãe. A essa
orientadora, que é como mãe, agradeço pelo carinho, pela confiança, pelo apoio e
compreensão, pelos conselhos, pela amizade e pelos ensinamentos. Junto dela,
recebi de presente o “Gameiro’s Group”. E o que dizer deste grupo?! Amigos?!
Companheiros?! Não só isso. Somos uma família! E como muito bem dito pela Jacy,
o que nos faz uma família são as peculiaridades de cada um. A irreverência e o
companheirismo da Gabriela Menezes (Gabi); a timidez da Maria Júlia Meewes
(Juju); a alegria da Sara Malaguti; a meiguice da Ana Gualberto (Aninha); o
entusiasmo do Renan Carvalho; a jovialidade do Felipe Xavier; o bom humor do
Diego Assis (Tisco) e minha imperatividade. Sinto-me muito feliz e agradecida por ter
vocês ao meu lado, como meus companheiros.
Muito devo também aos amigos e companheiros de trabalho da Imuno JF.
Aos professores Gilson Costa Macedo, Ana Paula Ferreira e Henrique Teixeira, as
meninas da Brucella, a galerinha da asma, da EAE, da tuberculose... Também a
professora Kézia Scopel e todos os alunos da parasito. O apoio, a confiança, as
doações e o carinho de vocês foram de extrema importância. A Leidiana e a Sirley,
agradeço pelo comprometimento com o trabalho, pela dedicação as tarefas, por toda
boa vontade e disposição em nos ajudar.
Aos empecilhos impostos pela reforma no laboratório, devo a oportunidade de
ter feito novos amigos no laboratório de Biologia Celular. As professoras Heloísa
Bizarro, Patrícia Almeida e Rossana Melo abriram-nos as portas, nos entregaram as
chaves de olhos fechados. Seus alunos, sempre dispostos e prestativos dispuseram
todo o espaço e toda boa vontade para nos acolher. A vocês, minha imensa
gratidão.
Deus não deixaria que eu encerrasse esse ciclo sem me presentear
novamente. E eis que, quase ao fim dele, fui abençoada com um amor e uma nova
família. Gláucio, meu príncipe, meu amigo, meu cúmplice, agradeço por toda alegria
que você trouxe a minha vida, por toda dedicação, todo o amor e toda paciência
durante a finalização deste trabalho.
Enfim, devo agradecer a Ele, nosso Pai Celestial. Sem suas bênçãos, nada
disso seria possível.
RESUMO
A obesidade tornou-se um problema de saúde pública em todo o mundo. Um
grande número de doenças, entre elas doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e
diversos tipos de cânceres, incluindo câncer de mama na pós menopausa, estão
associadas a obesidade.
O câncer de mama é a principal causa de mortalidade associada ao câncer em
mulheres nos países desenvolvidos e sua incidência tem aumentado nos países em
desenvolvimento. A maioria das mortes associadas ao câncer de mama resulta de
uma doença metastática não controlada. Assim, torna-se importante investigar
alterações do estilo de vida, incluindo os hábitos alimentares, capazes de diminuir o
risco de desenvolvimento de câncer de mama e metástases.
Neste trabalho, investigamos o potencial de desenvolvimento do carcinoma
mamário 4T1 e metástases em camundongos submetidos a uma dieta rica em
lipídeos.
Camundongos BALB/c, fêmeas, com idade de 4 a 6 semanas foram alimentados
com dieta padrão, onde 10% das kcal eram advindas de lipídeos, ou dieta rica em
lipídeos, onde 60% das kcal eram advindas de lipídeos; durante 6 ou 16 semanas. O
peso corporal, o consumo de ração e o perfil bioquímico foram registrados. Ao final
deste período, receberam células tumorais da linhagem 4T1. O peso e o volume do
tumor, bem como o desenvolvimento de metástases ósseas foram analisados. O
perfil das citocinas pró-inflamatórias TNF-α e IL-6, assim como o de leptina, foram
avaliados.
Observou-se um aumento do peso corporal dos animais alimentados pela HFD,
sem aumento do consumo de ração, a partir da segunda semana de dieta. Após 16
semanas de dieta, os animais obesos apresentaram aumento de gordura
perigonadal e retroperitoneal. Além disso, demonstraram menor tolerância à glicose,
aumento dos níveis séricos de leptina e colesterol.
Após receberem as células tumorais, a sobrevida dos animais obesos,
alimentados durante 16 semanas, embora não significativa, foi menor. Estes animais
também apresentaram tumores mais volumosos e mais pesados, além de aumento
de metástases ósseas. O perfil de citocinas destes mesmos animais, depois de
receberem o tumor, já num estágio avançado da doença, com desenvolvimento de
tumores secundários, também foi alterado. Observou-se diminuição da expressão de
leptina, acompanhada de diminuição de IL-6 e TNF-α.
Nossos resultados, em conjunto, demonstram que a ingestão de uma dieta rica
em lipídeos é capaz de induzir a obesidade em camundongos BALB/c fêmeas e
pode favorecer a progressão do câncer de mama.
Palavras-chave: Obesidade, câncer de mama, dieta hiperlipídica
ABSTRACT
Obesity has become a public health problem. A large number of diseases,
including cardiovascular disease, type 2 diabetes and various cancers, including
breast cancer in post-menopausal women, are associated with obesity.
Breast cancer is the mainly cause of cancer- related deaths in women in
developed countries and its incidence has increased throughout the developing
countries. Most deaths associated with breast cancer results from uncontrolled
metastatic disease. Thus, is important to investigate changes in lifestyle, including
dietary habits that are able to decrease the risk of developing breast cancer and
metastasis.
In this work, we investigate the potential development of 4T1 mammary
carcinoma and metastases in mice subjected to a high fat diet.
BALB/c, females, aged 4-6 weeks were fed with standard diet where 10% of kcal
from fat or high-fat diet where 60% of kcal from fat; for 6 or 16 weeks. Body weight,
feed intake and biochemical profile were analyzed. At the end of this period, mice of
both groups received the 4T1 lineage tumor cells. The weight and volume of tumor
and the development of bone metastases were examined. The profile of pro-
inflammatory cytokines TNF-α and IL-6 as well as leptin was also evaluated.
It has been observed a body weight gain of the animals fed the HFD, without
increasing the feed intake from the second weeks of diet. After 16 weeks of diet, the
obese animals showed increased perigonadal and retroperitoneal fat. Moreover, they
demonstrated reduced glucose tolerance, increased leptin and cholesterol serum
levels.
After receiving the tumor cells, the survival of obese animals fed for 16 weeks,
although not significant, was lower. These animals also showed tumors bulkier and
heavier, and increase bone metastases. The cytokine profile of obese animals that
received tumor, already at an advanced stage of the disease, with the development
of secondary tumors, has also changed. We observed decreased expression of
leptin, accompanied by decreased IL-6 and TNF-α.
Our results, taken together, show that eating a high-fat diet can induce obesity in
BALB/c mice and may promote the progression of breast cancer.
Keywords: Obesity, breast cancer, high-fat diet
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
Figura 01: Representação da estimativa mundial de sobrepeso e
obesidade entre mulheres e homens. ........................................................... Pág. 13
Figura 02: Desenho esquemático demonstrando o desenvolvimento dos
carcinomas mamários ductal e lobular invasivos. ......................................... Pág. 20
Figura 03: Representação esquemática do estabelecimento de
metástases pela hipótese de auto semeadura. ............................................ Pág. 21
Figura 04: Representação esquemática do delineamento experimental. .... Pág. 31
Figura 05: Desenho esquemático representando a marcação de orelha
usada para identificação dos animais. .......................................................... Pág. 32
Figura 06: Desenho esquemático demonstrando a localização anatômica
das glândulas mamárias e o local de injeção das células tumorais. ............ Pág. 35
Figura 07: Desenho esquemático demonstrando a localização anatômica
das gorduras retroperitoneais e perigonadais. ............................................. Pág. 37
Figura 08: Animais obesos apresentam aumento do peso corporal sem
aumentar o consumo de ração. .................................................................... Pág. 40
Figura 09: Aumento do peso das gorduras retroperitoneal e perigonadal
ao longo de dezesseis semanas de dieta nos animais obesos. ................... Pág. 41
Figura 10: Diminuição da tolerância à glicose, com aumento da glicemia
de animais obesos. ....................................................................................... Pág. 42
Figura 11: Aumento da concentração de leptina no soro de animais
obesos. ......................................................................................................... Pág. 42
Figura 12: Aumento dos níveis de colesterol total nos animais alimentados
pela HFD. ...................................................................................................... Pág. 43
Figura 13: Níveis de triglicérides não foram alterados pela ingestão da
HFD. .............................................................................................................. Pág. 43
Figura 14: Animais alimentados pela HFD durante 16 semanas
apresentam diminuição do peso corporal após a injeção do
tumor............................................................................................................... Pág. 45
Figura 15: Mortalidade de animais controles e obesos, alimentados por 6
ou 16 semanas de dieta, após receberem as células tumorais. ................... Pág. 46
Figura 16: Peso da gordura perigonadal dos animais alimentados por 6 ou
16 semanas de dieta após receberem o tumor. ........................................... Pág. 47
Figura 17: Animais obesos alimentados durante 16 semanas de dieta
apresentam tumores de maior peso e volume. ............................................. Pág. 48
Figura 18: Animais obesos, alimentados durante 16 semanas de dieta,
apresentam aumento de metástases na medula óssea. .............................. Pág. 49
Figrua 19: Animais obesos tendem a apresentar mais metástases no
linfonodo inguinal drenante do tumor. ........................................................... Pág. 50
Figura 20: Animais obesos apresentam maior expressão de leptina no
meio condicionado de tecido adiposo. .......................................................... Pág. 52
Figura 21: Expressão alterada de IL-6 em cultura de medula óssea do
ilíaco. ............................................................................................................. Pág. 53
Figura 22: Expressão de TNF-α no sobrenadante de cultura de medula
óssea do ilíaco de animais acompanhados durante 6 ou 16 semanas de
dieta. ............................................................................................................. Pág. 54
Figura 23: Aumento dos níveis séricos de leptina pode favorecer o
estabelecimento do tumor e o desenvolvimento de metástases. ................. Pág. 59
Tabela 01: Componentes da ração rica em gordura (HFD). ........................ Pág. 29
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Bcl-2 “B-cell lymphoma 2” – Linfoma de células B 2
Bcl-xL “B-cell lymphoma-extra large” – Linfoma de células B grandes
CCL2 “C-C motif chemokine 2” – Ligante de quimiocina 2
CCL5 “C-C motif chemokine 5” – Ligante de quimiocina 5
CCL11 “C-C motif chemokine 11” – Ligante de quimiocina 11
CD31 “Cluster of differentiation 31” – Grupamento de diferenciação 31
DMBA “7,12-Dimethylbenz(a)anthracene” – 7-12-dimetilbenzeno
(a)antraceno
DMEM “Dulbecco’s Modified Eagle’s Medium” – Meio Modificado de
Dulbecco’s
HFD “High-fat diet” – Dieta rica em gordura
IFN-γ “Interferon gamma” – Interferon gama
IGF-1 “Insulin-like growth factor 1” – Fator de crescimento semelhante
a insulina 1
IL-1β “Interleukin - 1 beta” – Interleucina - 1 beta
IL-2 “Interleukin - 2” – Interleucina - 2
IL-4 “Interleukin - 4” – Interleucina - 4
IL-5 “Interleukin - 5” – Interleucina - 5
IL-6 “Interleukin - 6” – Interleucina - 6
IL-8 “Interleukin - 8” – Interleucina - 8
IL-10 “Interleukin - 10” – Interleucina - 10
IL-12 “Interleukin - 12” – Interleucina - 12
IL-13 “Interleukin - 13” – Interleucina - 13
IL-17 “Interleukin – 17” – Interleucina - 17
IMC Índice de massa corpórea
iNOS “Inducible nitric oxide synthase” – Óxido nítrico sintase induzível
Ki67 Produto da expressão do gene MKI67
MAPK “Mitogen-activated protein kinase” – Proteína quinase ativada
por mitógeno
MCF-7 “Human breast adenocarcinoma cell line” – Linhagem celular de
adenocarcinoma mamário humano
MCP-1 “Monocyte chemotactic protein - 1” – proteína quimiotática de
monócitos - 1
MHC “Major histocompatibility complex” – Complexo maior de
histocompatibilidade
MMP2 “Matrix metalloproteinase - 2” – Metaloproteinase de matriz - 2
MMP9 “Matrix metalloproteinase - 9” – Metaloproteinase de matriz - 9
MMP11 “Matrix metalloproteinase - 11” – Metaloproteinase de matriz - 11
NF-κB “Nuclear factor κappa B” – Fator nuclear κappa B
NK “Natural killer cells” – Células exterminadoras naturais
Ob-R “Receptor for leptin” – Receptor de leptina
PAI-1 “Plasminogen activator inhibitor-1” – Inibidor do ativador de
plasminogênio 1
PBS “Phosphate-buffered saline” – Tampão fosfato-salino
PI3K “Phosphatidylinositide 3-kinases” – Fosfatidilinostideo 3 -
quinase
RANKL “Receptor activator of nuclear factor kappa-B ligand” – Receptor
ativador do fator kappa B ligante
ROS “Reactive oxygen species” – Espécies reativas de oxigênio
SFB Soro fetal bovino
TGF-β “Transforming growth factor beta” – Fator transformador de
crescimento beta
Th1 “T helper 1” – T auxiliar 1
Th2 “T helper 2” – T auxiliar 2
TLR4 “Toll-like receptor 4” – Receptor do tipo Toll 4
TNF-α “Tumor necrosis factor alpha” – Fator de necrose tumoral alpha
VEGF “Vascular endothelial growth factor” – Fator de crescimento
vascular endotelial
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 13
1.1 O Sistema Imune na Obesidade ...................................................................... 13
1.1.1 Modelos Experimentais de Obesidade.......................................................... 17
1.2 O Câncer de Mama........................................................................................... 19
1.3 Obesidade e Câncer......................................................................................... 23
2. OBJETIVOS........................................................................................................ 27
2.1 Objetivo Geral................................................................................................... 27
2.2 Objetivos Específicos........................................................................................ 27
3 MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................... 28
3.1 Animais............................................................................................................. 28
3.2 Dieta e Indução do Moedelo de Obesidade...................................................... 28
3.3 Cultura de Células da Linhagem 4T1................................................................ 29
3.4 Delineamento Experimental.............................................................................. 30
3.5 Eutanásias........................................................................................................ 32
3.6 Análises Bioquímicas........................................................................................ 32
3.6.1 Glicemia......................................................................................................... 32
3.6.2 Colesterol e Triglicérides................................................................................ 33
3.7 Quantificação de Leptina ................................................................................. 33
3.8 Indução do Modelo de Câncer de Mama Ortotópico in vivo............................. 34
3.9 Quantificação do Volume do Tumor.................................................................. 34
3.10 Ensaio Clonogênico Metastático..................................................................... 35
3.11 Meio Condicionado de Gordura...................................................................... 36
3.12 Cultura de Células Estimuladas com Anti-CD3............................................... 36
3.13 Dosagem de Citocinas.................................................................................... 37
3.14 Análise Estatística........................................................................................... 38
4 RESULTADOS.................................................................................................... 39
4.1 Avaliação do Modelo de Obesidade................................................................. 39
4.2 Influência da HFD na Sobrevida, no Crescimento Tumoral e no
Desenvolvimento de Metástases............................................................................ 44
4.3 Influência da HFD no Perfil de Citocinas Pró Inflamatórias.............................. 51
5 DISCUSSÃO........................................................................................................ 55
6 CONCLUSÃO...................................................................................................... 60
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................... 61
13
1 INTRODUÇÃO
1.1 O SISTEMA IMUNE NA OBESIDADE
A obesidade tornou-se um problema de saúde pública em todo o mundo.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2008, mais de 1,4 bilhão de
adultos estava acima do peso. Destes mais de 200 milhões de homens e quase 300
milhões de mulheres eram obesos. Em geral, cerca de 35% da população adulta
mundial encontra-se em sobrepeso, enquanto 11% é considerada obesa. No Brasil,
os dados também são alarmantes. Estudos epidemiológicos apontam que
aproximadamente 60% das mulheres e 54% dos homens encontram-se em
sobrepeso (Figura 01).
Figura 01: Representação da estimativa mundial de sobrepeso e obesidade entre mulheres e
homens. (Adaptado de WHO, 2013).
14
Em 2011, foi estimada a existência de mais de 40 milhões de crianças, menores
de cinco anos, com excesso de peso em todo o mundo das quais,
aproximadamente, 35 milhões vivem nos países em desenvolvimento. A obesidade
infantil é um grave problema de saúde pública, visto que crianças em sobrepeso ou
obesas tendem a permanecer obesas na idade adulta e são mais propensas a
desenvolver doenças associadas à obesidade. Além disso, estudos apontam
redução de cinco a vinte anos na expectativa de vida, de acordo com o grau de
obesidade (FONTAINE e BAROFSKY, 2001; WHO, 2013).
Sobrepeso e obesidade, em adultos, são comumente classificados através do
Índice de Massa Corporal (IMC). São considerados adultos em sobrepeso aqueles
que apresentam IMC maior ou igual a 25, enquanto que os obesos adultos devem
apresentar IMC maior ou igual a 30 (WHO, 2013).
Um grande número de doenças, incluindo resistência a insulina, diabetes tipo 2,
doenças cardiovasculares e diversos tipos de câncer, tais como cânceres
hematológicos, câncer de próstata, câncer de cólon, câncer de mama na pós-
menopausa, entre outros, está associado a obesidade. (KHANDEKAR, COHEN e
SPIEGELMAN, 2011).
Um acúmulo de adipócitos, correlacionado a um elevado IMC caracterizam,
biologicamente, a obesidade. Trata-se de uma síndrome metabólica multifatorial,
com interação entre hormônios, neuropeptídios e citocinas, acarretando
consequências ao eixo neuro-imuno-endrócrino (DIXIT, 2008).
Muitos estudos relacionando a interação de hormônios, células, neuropeptídios e
citocinas à fisiologia dos sistemas neuroendócrino e imunológico, bem como a
resposta imunológica, têm sido realizados (CHROUSOS, 1995; CORREIA-DE-
SANTANA et al., 2009; DARDENNE et al., 2009; MENDES-DA-CRUZ et al. 2009;
PEREZ et al. 2009, SAVINO, 2010).
A leptina é um dos principais hormônios associados à obesidade. Produzida,
principalmente, pelo tecido adiposo, proporcionalmente a massa de gordura e, em
níveis inferiores em tecidos como o estômago, placenta e músculo esquelético, é um
exemplo evidente de hormônio que atua tanto no sistema neuroendócrino quanto
imunológico (ROBERTSON et al., 2008; LEINNINGER et al.,2008).
Foi primeiramente descrita como um regulador da saciedade e do controle de
peso. No entanto, sabe-se que a leptina pode também afetar a homeostase do timo,
aumentar a quimiotaxia de neutrófilos, induzir a secreção de interleucina 1 (IL-1),
15
interleucina 6 (IL-6) e do fator de necrose tumoral alpha (TNF-α, do inglês “tumor
necrosis factor”); aumentar a expressão de moléculas de adesão, a expressão de
moléculas do complexo maior de histocompatibilidade (MHC, do inglês “major
histocompatibility complex”), a atividade fagocítica de macrófagos, além de aumentar
a secreção de perforinas por células NK. Inibe respostas do tipo T “helper” β (Thβ),
promovendo a diferenciação de células T “helper” 1 (Th1), o aumento de linfócitos T
CD8 e macrófagos; é capaz de induzir a proliferação de linfócitos T CD4 e a
produção de interleucina 2 (IL-2) por essas células e pode ainda modular o
aparecimento e a progressão de respostas autoimunes em modelos animais dessas
doenças (ZHAO et al., 2003; LA CAVA e MATARESE, 2004; BERNOITIENE et al.,
2006; LAM e LU, 2007, MATARESE et al., 2008; LIKUNI et al., 2008; CARLTON et
al., 2012).
Camundongos obesos, deficientes de leptina (ob/ob) ou deficientes do receptor
de leptina (db/db), não são apenas gravemente obesos, mas apresentam também
uma série de deficiências secundárias, como: anormalidades na reprodução, na
hematopoiese, na angiogênese, na secreção de insulina, no metabolismo ósseo,
lipídico e de glicose, além de importantes alterações na imunidade inata e adaptativa
(BANNETT et al., 1996; CHEHAB, LIM e LU, 1996; LORD et al., 1998; SIERRA-
HONIGMAM et al., 1998; PARK et al., 2001; LAM e LU, 2007; SANCHEZ-MAGALET
et al., 2009). Existem também relatos de que humanos com deficiência de leptina
apresentam susceptibilidade a doenças infecciosas oportunistas, com menor
proliferação de linfócitos T CD4, ausência de IFN-Ȗ (do inglês “interferon gamma”),
menor produção de interleucina 4 (IL-4) e interleucina 10 (IL-10) e aumento da
secreção do fator de crescimento tumoral do tipo beta (TGF-ȕ, do inglês “tumor
growth factor”). Interessantemente, a administração exógena de leptina é capaz de
restaurar as funções imunológicas desses indivíduos (LAM e LU, 2007).
Diversas evidências apontam a obesidade como um estado inflamatório crônico
de baixo grau que contribui para o desenvolvimento de desordens relacionadas à
obesidade, em especial, à disfunção metabólica (SHOELSON, LEE e GOLDFINE,
2006). Sabe-se que o tecido adiposo funciona também como uma glândula
endócrina capaz de secretar diversas substâncias bioativas. Tais substâncias,
denominadas coletivamente como adipocinas, podem alterar a composição de
tecidos, incluindo alterações no número, no fenótipo e na localização de células
imunes e vasculares. Indivíduos obesos comumente apresentam um aumento dos
16
níveis de citocinas pró-inflamatórias no sangue, em função do excesso de tecido
adiposo e até mesmo de uma disfunção dos adipócitos, o que pode levar a
respostas imunes alteradas, conduzindo a patogênese de diversas doenças. (BERG
e SCHERER, 2005; NORIYUKI et al., 2011).
Os mais abundantes depósitos de tecido adiposo são o visceral e o subcutâneo,
que produzem perfis exclusivos de adipocinas, tais como TNF-α e IL-8 (SAMARAS
et al., 2010). No entanto, acúmulos de adipócitos podem ser encontrados por todo
corpo, associados a diversos órgãos, como coração, rins, medula óssea, pulmões e
grandes vasos sanguíneos com evidências de indução de um estado pró-
inflamatório nessas regiões (CHATTERJEE et al., 2009).
Muitas células do sistema imunológico estão presentes no tecido adiposo, dentre
elas: macrófagos, linfócitos, neutrófilos e células dendríticas (SCHIPPER et al.,
2012). O tecido adiposo tanto de indivíduos obesos como nos modelos animais de
obesidade apresenta um grande infiltrado de macrófagos e o recrutamento dessas
células está ligado à inflamação sistêmica e a resistência à insulina, sendo os
maiores responsáveis pela produção de citocinas pró-inflamatórias (XU et al., 2003;
WEISBERG et al., 2003).
Diferentes subtipos de macrófagos estão envolvidos na inflamação do tecido
adiposo induzida pela obesidade. Macrófagos que se acumulam no tecido adiposo
de obesos são, principalmente, M1 ou macrófagos classicamente ativados; enquanto
que aqueles do tecido adiposo de camundongos magros são do tipo M2 ou
alternativamente ativados (LUMENG, BODZIN e SALTIEL, 2007). Estímulos gerados
por citocinas do tipo Th1, incluindo IFN-Ȗ, ou por produtos bacterianos e sinalização
via receptores do tipo Toll-Like leva a geração de macrófagos M1, capazes de
produzir altas concentrações de citocinas pró-inflamatórias, tais como TNF-α, IL-1ȕ,
IL-6 e IL-12; e geram radicais livres através da expressão de óxido nítrico sintase
induzível (iNOS) e de espécies reativas de oxigênio (ROS) (CHAWLA et al., 2011).
Em contraste, macrófagos são polarizados para o fenótipo M2 por citocinas do tipo
Th2, como IL-4 e IL-13 (ODEGAARD et al., 2008). Funcionalmente, macrófagos M2
estão associados com a reparação de tecidos lesados e a resolução da inflamação
(GORDON, 2003). Desta forma, macrófagos M1 promovem a resistência à insulina e
macrófagos M2 protegem contra a resistência à insulina induzida pela obesidade
(ODEGAARD e CHAWLA, 2011).
17
Outras células imunológicas parecem alteradas na obesidade. Modelos
experimentais de camundongos obesos ob/ob apresentam atrofia tímica e defeitos
associados à resposta de linfócitos T, reduzida capacidade de apresentação de
antígenos pelas células dendríticas e diminuída capacidade de ativar a proliferação
de linfócitos T (LA CAVA e MATARESE, 2004; MACIA et al., 2006). Uma menor
diversidade de células T também foi observada em modelos animais de obesidade,
sugerindo imunovigilância prejudicada (YANG, et al., 2009). Além disso, animais
db/db, com deficiência no receptor de leptina, apresentam um déficit de células NK,
além de menor citotoxicidade destas células, resultante do desenvolvimento anormal
das mesmas nestes animais (LA CAVA e MATARESE, 2004) . O menor número de
células NK com função citotóxica alterada também é observado em humanos
(O’SHEA et al., 2010), demostrando que os modelos experimentais de obesidade
apresentam características semelhantes aquelas observadas em humanos e são
úteis para o estudo desta patologia.
1.1.1 MODELOS EXPERIMENTAIS DE OBESIDADE
A indução da obesidade pode ser realizada, em animais, por alterações
neuroendócrinas, nutricionais ou genéticas. A grande similaridade entre o genoma
dos roedores e o dos seres humanos tornam esses modelos animais uma
importante ferramenta para o estudo da obesidade (VON DIEMEN, TRINDADE e
TRINDADE, 2006).
Os principais modelos para indução de obesidade em ratos e camundongos são:
lesões do núcleo hipotalâmico ventromedial, ovarectomia, dieta hipercalórica e
manipulações genéticas.
A administração de glutamato monossódico (MSG) a ratos ou camundongos
recém-nascidos provoca a destruição dos núcleos hipotalâmicos ventromedial e
arqueado. Nesse caso, os animais desenvolvem a obesidade devido à falta de
controle entre a absorção e o gasto de energia (LORDEN e CAUDLE, 1986). Sabe-
se que neste modelo não há um aumento da ingestão de alimentos. Segundo
18
Djazayery (1979), a obesidade induzida quimicamente ocorre devido à diminuição da
taxa metabólica destes animais. Lesões no núcleo hipotalâmico ventromedial
também podem ser desenvolvidas por correntes elétricas capazes de causar a
destruição bilateral dos núcleos hipotalâmicos, levando a obesidade. Sabe-se que a
lesão elétrica do hipotálamo provoca aumento do nível de leptina, a redução do total
de neuropeptídeo Y, mantendo as flutuações do ciclo circadiano e parece haver uma
perda do “feedback” entre os mecanismos de insulina e leptina (DUBE et al., 1999).
A partir de observações de que mulheres na pós-menopausa apresentam
uma série de alterações metabólicas, incluindo ganho de peso, um novo modelo de
obesidade surgiu através da ovarectomia. É um modelo bastante útil para se estudar
as modificações pelas quais as mulheres passam ao fim de sua idade fértil. A
remoção das gônadas provoca uma queda nos níveis de leptina, associada a um
período de hiperfagia e acentuado ganho de peso. Sete semanas após a
ovarectomia, os níveis de leptina são restaurados chegando a níveis mais elevados
que os pré-operatórios (CHU et al., 1999; AINSLIE et al., 2001; CHEN e HEIMAN,
2001; KIMURA et al., 2002; MELI et al., 2004).
O modelo mais simples de indução de obesidade e, possivelmente, aquele
que mais se assemelha a realidade da obesidade em humanos é o modelo de dietas
hipercalóricas. Vários tipos de dietas são eficazes na indução da obesidade.
Algumas delas atingem valores hipercalóricos pela adição de carboidratos e outras
pela adição de gorduras (VON DIEMEN, 2006). Meguid e colaboradores, em 2004,
induziram o modelo usando uma dieta cuja composição consistiu em 48% de ração
convencional, 8% de óleo de milho e 44% leite condensado, sendo os animais
alimentados durante 7 a 12 semanas. Usando dietas hipercalóricas compostas por
17,4% de carboidratos, 42,9% de proteínas e 39,7 % de gordura ou 21% de
carboidratos, 24% de proteínas e 55% de gordura, Prunet-Marcassus e
colaboradores também induziram o modelo de obesidade por dieta, em 2004.
Em 1990, quando foram identificados cinco diferentes genes causadores da
obesidade, os modelos genéticos começaram a ser usados. Existem mais de 50
tipos diferentes de modelos genéticos de obesidade em roedores. No final de 1994,
o gene da obesidade de rato foi clonado (ob/ob) e cerca de um ano depois se clonou
o gene do diabetes (db/db). Diversos estudos mostraram que esses genes
pertenciam a mesma via metabólica e que o db/db poderia ser um receptor do ob/ob.
Posteriormente, o produto do gene ob/ob foi identificado e denominado como leptina.
19
Assim, os animais ob/ob desenvolvem uma síndrome que inclui hiperfagia, diabetes
e obesidade, cuja origem se deve a ausência de leptina ou a presença não funcional
desse hormônio. Os animais db/db apresentam uma mutação que faz com que haja
a resistência à leptina, ou seja, eles possuem leptina, mas não um receptor funcional
para o hormônio. Estes animais são hiperinsulinêmicos, intolerantes a glicose,
apresentam alterações neuroendócrinas e termogênicas, além de hiperfagia e
infertilidade (CHAGNON e BOUCHARD, 1996; ROBINSON, DINULESCO e CONE,
2000; BROCKMANN e BEVOVA, 2002).
Investigar as causas e os efeitos da indução de obesidade em modelos
experimentais pode proporcionar a melhor compreensão da fisiopatologia desta
doença e novas opções para prevenção e tratamento. No entanto, é necessário
escolher o modelo que melhor se adapta as características a serem pesquisadas,
sejam elas ambientais ou genéticas (VON DIEMEN, TRINDADE e TRINDADE,
2006).
1.2 O CÂNCER DE MAMA
O câncer de mama é o tipo mais frequente de câncer em mulheres,
apresentando incidência crescente e alta taxa de mortalidade. Estima-se que, nos
Estados Unidos, esta seja a segunda principal causa de morte associada a câncer
em mulheres e que a maioria destas mortes resulte de doença metastática não
controlada (DISANTIS et al., 2014). É um câncer capaz de propagar-se para outras
partes do corpo dentro de três anos do diagnóstico inicial em cerca de 10 a 15% dos
casos (HELMAN e HARRIS, 2000). As células dos tumores sólidos, incluindo o
carcinoma de mama, migram através do sistema linfático ou circulatório e invadem
outros órgãos à distância por mecanismos ainda pouco definidos.
Dentre os carcinomas mamários, o carcinoma ductal invasivo é o tipo mais
comum de câncer de mama, perfazendo um total de 80% de todos os casos de
câncer de mama. Nesta patologia, um câncer que se inicia nos ductos de leite é
capaz de invadir e se espalhar pelos tecidos mamários circundantes (Fig. 02)
20
Inicialmente, é assintomático, sendo na maioria das vezes detectado por alterações
na mamografia ou pelo aparecimento de um nódulo palpável no tecido mamário
(breastcancer.org).
O segundo tipo mais comum de câncer de mama é o carcinoma lobular
invasivo, que se origina nos lóbulos produtores de leite, podendo invadir e se
espalhar pelos tecidos adjacentes, conforme demonstrado na figura 02. Perfaz um
total de 10% dos casos de câncer de mama e tende a ocorrer em mulheres mais
velhas do que aquelas acometidas pelo carcinoma ductal invasivo. Os carcinomas
lobulares invasivos tendem a ser mais difíceis de visualizar em mamografias porque
em vez de formar um nódulo, as células cancerosas se espalham para o tecido
conjuntivo circundante (estroma mamário) e formam estruturas em linha
(breastcancer.org).
A metástase, principal causa de morte em pacientes com câncer, ocorre
quando as células tumorais deixam seus locais de origem e migram para locais
adjacentes ou distantes. Em 1874, foi proposto por De Morgan que as células
tumorais progrediam de forma linear, atingindo primeiramente os linfonodos e,
posteriormente, locais distantes (revisto por COMEN, 2012). No entanto, foi
Figura 02: Desenho esquemático demonstrando o desenvolvimento dos carcinomas
mamários ductal e lobular invasivos. (Adaptado de www.breastcancer.org).
21
observado que mulheres, após mastectomia total, mesmo sem comprometimento
dos linfonodos axilares, desenvolviam doença metastática. Assim, foi postulada a
hipótese de que as células tumorais podem se propagar por via linfática e também
pela circulação sistêmica (SHAPIRO e FUGMANN, 1957; FISHER, 1977). Mais
recentemente, foi proposto o modelo de auto semeadura, acreditando-se que as
células tumorais possuem a capacidade de migrar de um local para outro, podendo
se estabelecer em locais próximos ao tumor primário, em locais distantes, bem como
recolonizar o sítio do tumor primário (Fig. 03). Com esta hipótese, também foi
afirmada a ideia de que tumores pequenos podem ser altamente metastáticos, bem
como tumores de grande volume podem apresentar uma pequena capacidade
metastática (NORTON e MASSAGUE, 2006). Sabe-se que tumores primários podem
ser bastante heterogêneos e, desta forma, apresentar células cancerosas com
diferentes capacidades de disseminação. Logo, um pequeno número de células com
capacidade metastática podem ocasionar metástases significativas (LIU et al.,
2010). Além disso, dada à heterogeneidade do tumor, os clones de células tumorais
podem se adaptar a diferentes ambientes, em diferentes órgãos (GERLINGER et al.,
2012). Também foi demonstrado que as células cancerosas podem apresentar
assinaturas genéticas específicas, capazes de dirigi-las, especificamente, a
determinados órgãos (MINN et al., 2005 ).
Figura 03: Representação esquemática do estabelecimento de metástases pela hipótese de auto
semeadura. As células cancerosas deixam o tumor primário e podem circular de volta para o tumor
primário (A) ou seguir através da circulação, como uma célula de tumoral circulante (B). As células
tumorais circulantes podem se disseminar em locais distantes (C, D), proliferar no próprio tumor
secundário (E), ou voltar ao sítio de tumor primário (F). (Adaptado de Comen, 2012).
22
É bem documentado que as células tumorais derivadas de carcinomas de
mama, frequentemente, se disseminam por via hematológica e progridem
preferencialmente no microambiente da medula óssea. A presença de células
tumorais circulantes no sangue periférico ou disseminadas na medula óssea é de
grande relevância clínica e representa um pior prognóstico (LIANIDOU et al., 2010).
Estima-se que 70% das pacientes desenvolvem metástases ósseas, mesmo após a
completa remoção do tumor primário. As células tumorais aderem à superfície
endosteal da medula óssea e colonizam o osso, utilizando de fatores que, além de
estimularem o crescimento tumoral, alteram seus fenótipos tornando-as resistentes
às respostas anti-tumorais (KAKONEN e MUNDY, 2003). As terapias atuais que
incluem cirurgia, terapia hormonal, quimioterapia, radioterapia e outras combinações
não são completamente eficazes para o tratamento de metástases de câncer de
mama (ALI, HARVEY e LIPTON, 2003).
O estabelecimento de modelos experimentais que representem fielmente os
processos metastáticos ósseos que ocorrem in vivo é o maior desafio para o estudo
de metástases (TAO et al., 2008). Modelos xenogênicos obtidos pela injeção de
células tumorais humanas em camundongos imunocomprometidos são
extensivamente utilizados para o estudo do crescimento tumoral, estabelecimento de
metástases e validação de produtos gênicos específicos do tumor como possíveis
alvos-terapêuticos. Entretanto, esses modelos não são capazes de estabelecer
eficientemente esses processos e quando o fazem, são observadas diferentes
propriedades metastáticas (BIBBY, 2004). Em contrapartida, modelos experimentais
singênicos, que utilizam células tumorais murinas, estabelecem metástases mais
eficientemente e apresentam características metastáticas similares àquelas
observadas em humanos (HEPPNER, MILLER e SHEKHAR, 2000). Além disso, os
modelos murinos singênicos permitem que toda a análise seja realizada em animais
com funções imunológicas normais. Sabe-se que o sistema imunológico
desempenha um papel importante no desenvolvimento e progressão de câncer e
modelos que podem ser usados em animais imunocompetentes são essenciais para
a análise da progressão e avaliação de terapias anti-tumorais.
Um modelo animal clinicamente relevante para geração de metástases
espontâneas foi estabelecido em camundongos BALB/c. A linhagem celular de
carcinoma de mama, denominada 4T1, derivada espontaneamente de um tumor
mamário murino, ortotopicamente introduzida em camundongos BALB/c, é altamente
23
tumorigênica e invasiva, sendo capaz de originar metástases para os mesmos
órgãos afetados pelo câncer de mama em humanos, incluindo osso, pulmão, fígado
e cérebro (MILLER, 1983; LELEKAKIS, 1999). Além disso, o tumor primário pode
ser removido cirurgicamente, e a doença metastática pode continuar a ser estudada,
de forma semelhante à que ocorre na prática clínica com pacientes humanos. Em
consequência da heterogeneidade desse carcinoma, várias linhagens parentais de
4T1 foram isoladas e caracterizadas e seguem vias divergentes de aquisição de
fenótipos metastáticos, sendo que uma delas, a 67NR, permanece no sítio primário
(LELEKAKIS, 1999).
Devido à alta capacidade de exibir metástases nos mesmos sítios afetados
pelo câncer de mama humano, o modelo de carcinoma mamário murino 4T1
representa um sistema ideal para o estudo de metástases, regimes terapêuticos,
investigações de bases moleculares, celulares e patológicas de câncer de mama em
diversos órgãos e tecidos.
1.3 OBESIDADE E CÂNCER
Estima-se que 15 a 30% das mortes causadas por câncer nos Estados
Unidos seja atribuída ao sobrepeso e obesidade (World Cancer Research/American
Cancer Research, 2007).
Estudos epidemiológicos indicam que o consumo de dieta rica em gordura,
independente do tipo de gordura, pode levar ao aumento do risco de
desenvolvimento de câncer de mama invasivo em mulheres na pós-menopausa.
Sabe-se também que um elevado IMC está associado ao pior prognóstico de câncer
de mama (WHITEMAN et al., 2005; THIEBAUT et al., 2007; DAWOOD et al., 2008).
Os mecanismos que vinculam a obesidade e desenvolvimento de câncer
incluem resistência à insulina, hiperinsulinemia crônica, maior biodisposição de
hormônios esteróides, inflamação local e secreção de adipocinas pelo tecido
adiposo (CALLE, 2007).
24
Além de apresentarem níveis alterados de moléculas inflamatórias, indivíduos
obesos apresentam também elevadas concentrações do Fator de Crescimento
Vascular e Endotelial (VEGF, do inglês “vascular endothelial growth factor”), do
Inibidor do Ativador de Plasminogênio -1 (PAI-1, do inglês “plasminogen activator
inhibitor-1”) e do Fator de Crescimento Semelhante a Insulina -1 (IGF-1, do inglês
“insulin-like growth factor 1”) que estão diretamente relacionados a expansão de
tumores (HURSTING e BERGER, 2010). Estudos clínicos e in vitro também
demonstraram que a leptina, presente em altas concentrações em obesos, está
relacionada ao desenvolvimento de câncer, dentre eles, câncer de mama (GARCIA-
ROBLES, SEGURA-ORTEGA e FAFUTIS-MORIS, 2013).
Sabe-se que o aumento dos níveis de leptina, TNF-α e insulina levam ao
aumento da produção de IL-6 pelos adipócitos. Por sua vez, a ativação da IL-6 está
relacionada à transcrição de proteínas sinalizadoras ligadas a proliferação,
sobrevivência e invasão de células tumorais (LYSAGHT et al., 2011). Ao investigar o
papel do TNF-α e da hiperinsulinemia no desenvolvimento de câncer de colo retal
em animais obesos, demonstrou-se que esses animais possuíam um infiltrado
inflamatório no cólon, rico em macrófagos e leucócitos, associados a danos nas
células epiteliais. Os animais obesos também apresentaram tumores mais
proeminentes e associou-se isso a altos níveis de TNF-α, podendo esta citocina
estar diretamente relacionada ao crescimento de tumores de cólon em animais
obesos (FLORES at al., 2011).
James e colaboradores, em 2012, ao avaliar camundongos obesos induzidos
por dieta e portadores de carcinoma de células renais em modelo ortotópico,
observou que os animais obesos apresentaram aumento do infiltrado local de
células T e crescimento precoce do tumor quando comparados aos animais magros.
Além disso, a ativação e a funcionalidade das células dendríticas dos animais
obesos foi prejudicada, sugerindo que a obesidade pode diminuir a eficácia de
imunoterapias baseadas no uso de células dendríticas.
Um alto percentual de tecido adiposo visceral está relacionado à menor
concentração de testosterona e a maior agressividade de tumores de próstata. Ao
avaliar pacientes chineses submetidos à prostatectomia total, Qu e colaboradores,
em 2013, observaram que, embora o IMC não estivesse relacionado a um pior
prognóstico da patologia, o percentual mais elevado de tecido adiposo visceral foi
preditivo de um maior escore patológico do tumor de próstata, bem como de maiores
25
probabilidades de extravasamento da cápsula prostática e de invasão da vesícula
seminal. Com isso, sugeriram que a distribuição da gordura abdominal está
associada a um alto risco de desenvolvimento de câncer de próstata.
A obesidade também está relacionada com o desenvolvimento de tumores de
mama. Sabe-se que o tecido mamário adulto é composto, em grande parte, por
adipócitos, a principal célula do tecido adiposo, e o número desses adipócitos pode
ultrapassar o número de células epiteliais (LIN e POLLARD, 2007). Além disso, é
bem documentado que em indivíduos obesos, ocorre diminuição da maturação de
pré-adipócitos em adipócitos e alteração do balanço entre leptina e adiponectina
(VONA-DAVIS e ROSE, 2009; SIMONS et al., 2010). As citocinas secretadas pelos
pré-adipócitos atraem monócitos e altas concentrações locais de leptina promovem
a conversão de monócitos em macrófagos, que contribuem para a produção local de
citocinas pró-inflamatórias e fatores pró-angiogênicos (VONA-DAVIS e ROSE,
2009). Estes mecanismos, além de bloquearem a maturação de pré-adipócitos em
adipócitos, dão origem a um microambiente favorável ao crescimento de tumores
(CAMPBELL et al., 2010; ZEYDA et al., 2010).
Os altos níveis de ácidos graxos livres, observados em indivíduos obesos,
também podem estimular a produção de citocinas pelos pré-adipócitos. Foi
demonstrado que os ácidos graxos livres ativam a sinalização de receptores Toll-like
4 (TLR4) e aumentam a secreção de IL-6, CCL2, CCL5 e CCL11, o que também
prejudica a diferenciação dos pré-adipócitos (POULAIN-GODEFROY e FROGUEL,
2007). Várias dessas citocinas, especialmente CCL2 e CCL5, suprimem a imunidade
antitumoral mediada por células T (SORIA e BEM-BARUCH, 2008).
Em 2011, foi demonstrado por Subbaramaih e colaboradores, usando
modelos genéticos de obesidade e também em modelos de obesidade induzida por
dieta, aumento das coroas de macrófagos ao redor de adipócitos na glândula
mamária de camundongos obesos. Estes animais também apresentaram altos níveis
de mediadores pró-inflamatórios e do fator nuclear κB (NF - κB) induzindo o aumento
de aromatase. A indução da aromatase aumentaria a produção local de estrogênio e
este fato favoreceria o crescimento de tumores de mama sensíveis ao estrogênio.
Ao avaliar a influência de uma dieta hipercalórica na progressão do tumor de
mama humano que apresenta o receptor de estrogênio (ER-positivo), Lamas e
colaboradores, em 2013, observaram maior crescimento do tumor, um aumento da
expressão de Ki67, acompanhado de diminuição da clivagem de caspase-3 e menor
26
expressão dos receptores de estrogênio ȕ (ER-ȕ) e de progesterona, além de menor
citotoxicidade de células “natural killer” (NK) no baço dos animais alimentados pela
dieta hipercalórica. Sugeriram então que uma dieta hipercalórica, mesmo sem
aumento do peso corporal, pode aumentar a proliferação deste tumor e reduzir a
apoptose do mesmo.
Llaverias e colaboradores, em 2011, examinaram o papel do colesterol na
regulação e na progressão de tumor mamário em um modelo de camundongo
transgênico. Sugeriram que o colesterol acelera a formação de tumores e aumenta a
angiogênese, dando maior agressividade a esses tumores.
Kim e colaboradores, em 2011, demonstraram que o consumo prolongado de
uma dieta rica em gordura tem pouco efeito sobre o consumo energético e o peso
corporal de camundongos BALB/c, mas leva ao aumento do crescimento do tumor e
de metástases pulmonares, além de maior mortalidade quando esses animais
receberam células de carcinoma mamário 4T1. Esses animais também
apresentaram maior infiltrado de macrófagos no tecido adiposo e níveis séricos de
leptina mais elevados.
Sabe-se que as metaloproteinases de matriz (MMP) modulam a invasão
tecidual das células tumorais e promovem a metástase. Todo o microambiente
inflamatório, ocasionado pela obesidade, e a grande produção de citocinas, tais
como IL-1, IL-5, IL-6, IL-17 nesse microambiente, favorecem a ativação de MMP-2,
MMP-9 e MMP-11. Em conjunto, estes fatores favorecem um pior prognóstico do
carcinoma mamário e podem promover a metástase (EIRÓ et al., 2013; SIMPSON e
BROWN, 2013).
Diante destas constatações, é evidente que há uma relação íntima entre
obesidade, alterações metabólicas e imunológicas e o desenvolvimento de tumores.
No entanto, muitos estudos ainda são necessários para se entender essa relação.
Assim, considerando-se o progressivo crescimento de quadros de obesidade em
todo o mundo, as elevadas taxas de mortalidade e morbidade associadas a esta
doença e os impactos que causa no sistema imunológico, estudos que avaliem o
desenvolvimento de tumores e o papel do imunometabolismo nesta progressão são
extremamente relevantes.
27
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Avaliar o impacto da obesidade no estabelecimento do tumor de mama e
metástases em animais que receberam a linhagem de célula tumoral 4T1.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Avaliar o tempo de dieta mais adequado para indução de obesidade
em camundongos BALB/c fêmeas; Avaliar o perfil bioquímico desses camundongos ao longo das semanas
de dieta, bem como o acúmulo de tecido adiposo nas regiões
retroperitoneais e perigonadais, além da concentração de leptina no
soro; Avaliar o crescimento tumoral e metástases através de medidas de
peso e volume do tumor e ensaios clonogênicos; Avaliar a concentração das citocinas TNF-α e IL-6 na medula óssea do
ilíaco dos animais dos diferentes grupos experimentais, bem como a
concentração de leptina no meio condicionado de gordura.
28
3 MATERIAL E MÉTODOS
3.1 ANIMAIS
Foram utilizados camundongos BALB/c, fêmeas, com idade entre 4 e 6
semanas e peso entre 18 e 20g, obtidos da colônia do Biotério de Centro de Biologia
da Reprodução, da Universidade Federal de Juiz de Fora.
Os animais foram acondicionados em gaiolas de polipropileno, cobertas com
cama de maravalha, dotadas de cocho para ração e local para mamadeira com água
filtrada. Cada gaiola, medindo 30x20x13 cm, continha cinco animais e foi mantida
em armários climatizados (ALESCO), localizados em alojamento com ciclo de
fotoperíodo de 12h claro/12h escuro, controlado automaticamente, durante todo o
procedimento experimental.
O protocolo experimental do presente trabalho foi submetido à Comissão de
Ética no Uso dos Animais da Universidade Federal de Juiz de Fora, recebendo
aprovação, certificada no Protocolo de nº 039/2012 – CEUA.
3.2 DIETA E INDUÇÃO DO MODELO DE OBESIDADE
Para realização destes experimentos, os animais designados como controles
foram alimentados com a ração comercial padrão (Nuvilab), na qual 10% das
quilocalorias (kcal) eram advindas de lipídeos, 20% de proteínas e 70% de
carboidratos. Já os animais designados como obesos receberam uma dieta rica em
gordura (HFD, do inglês “high fat diet”), onde 20% das quilocalorias eram obtidas a
partir de carboidratos, 20% de proteínas e 60% de lipídeos, totalizando 35,2% de
lipídeos na composição.
29
A ração HFD foi produzida em nosso laboratório. Para tal, cada ingrediente foi
cuidadosamente pesado e homogeneizado com o auxílio de um multiprocessador
(PHILLIPS/WALITA). A massa originada foi acondicionada em recipientes plásticos e
mantida congelada (-20°C) até o momento de distribuição nas gaiolas, por um prazo
máximo de dois meses. Os ingredientes para o preparo dessa ração foram
adquiridos da empresa PRAGSOLUÇÕES Biociência e a composição está descrita
na tabela 01.
3.3 CULTURA DE CÉLULAS DA LINHAGEM 4T1
A linhagem de tumor mamário murino 4T1 nos foi gentilmente cedida pela
Dra. Adriana Bonomo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. As células foram
cultivadas em Meio Modificado de Dulbecco’s (DMEM, do inglês “Dulbecco’s
Modified Eagle’s Medium”) com 4500mg/L de glicose (DMEM high glucose –
Tabela 01: Componentes da ração rica em gordura (HFD)
Ingrediente Peso (g)
Caseína 200,0
Sacarose 100,0
Amido de milho 115,5
Amido Dextrinizado 132,0
Banha 312,0
Óleo de soja 40,0
Celulose 50,0
Mistura de minerais AIN-93 35,0
Mistura de vitaminas AIN-93 10,0
L- Cistina 3,0
Bitartarato de Colina 2,5
30
SIGMA), suplementado com 10% de soro fetal bovino (SFB), 1% de L-Glutamina
(GIBCO) e 1% de antibiótico (100 unidades/ mL de penicilina e 100 ug/mL de
estreptomicina – GIBCO) a 37°C e 5% de CO2.
Após atingirem cerca de 80% de confluência, as células foram lavadas com
tampão salino fosfato (PBS) 0,15M, pH 7,4 (2,8 mM Na2PO4; 7,2 mM Na2HPO4;
0,14M NaCl).Em seguida, foram incubadas com solução de Tripsina - EDTA 0,25%
(GIBCO), durante 5 min., a 37ºC. Após a incubação, a suspensão celular foi
centrifugada a 1500rpm, durante 5 min., a 4ºC. Para verificação da viabilidade
celular, depois de ressuspendidas em DMEM, foram diluídas em Azul de Tripan
0,2% e contadas em Câmara de Neubauer.
3.4 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL
Para avaliarmos o impacto da obesidade sobre o crescimento do tumor
mamário e metástases, utilizamos o modelo de obesidade induzida por dieta
hiperlipídica. Todo o estudo consistiu de quatro grandes experimentos, conforme
demonstrado no fluxograma a seguir (Fig. 04).
Primeiramente, foi caracterizado o modelo de obesidade. Para isso, os
animais foram pesados semanalmente e tiveram o consumo de ração controlado.
Foram realizadas eutanásias após 6, 8, 12 e 16 semanas de dieta para as seguintes
análises: (i) glicemia de jejum e tolerância à glicose; (ii) quantificação das gorduras
retroperitoneal e perigonadal; (iii) dosagens de colesterol total e triglicérides no soro
dos animais acompanhados durante 6, 12 e 16 semanas de dieta, bem como a
dosagem de leptina.
No segundo experimento, os animais receberam dieta hiperlipídica ou
controle durante 6 ou 16 semanas. Ao fim do período de dieta, foram inoculados
com 5 x 104 células tumorais da linhagem 4T1, concentração previamente definida
por Kim e colaboradores (2011), e acompanhados durante 50 dias para análise do
percentual de sobrevida e do volume tumoral.
Em um terceiro experimento, após serem acompanhados durante 6 ou 16
semanas de dieta, os animais receberam as células tumorais e foram eutanasiados
31
após 14, 17, 24 e 30 dias da injeção para as seguintes análises: (i) quantificação do
peso do tumoral e da gordura perigonadal; (ii) avaliação de metástases através de
ensaio clonogênico metastático da medula óssea do ilíaco e dos linfonodos
drenantes do tumor.
No quarto experimento, os animais, após 6 ou 16 semanas de dieta, foram
divididos nos grupos: controle sem tumor (CTR ST), obeso sem tumor (OB ST),
controle com tumor (CTR 4T1) e obeso com tumor (OB 4T1). As eutanásias
ocorreram no dia 14 após a injeção do tumor e no dia 35 a fim de analisar a
concentração das citocinas TNF-α e IL-6 a partir de cultura de células da medula
óssea do ilíaco, bem como a concentração de leptina no meio condicionado de
tecido adiposo dos animais alimentados por 16 semanas.
Figura 04: Representação esquemática do delineamento experimental.
32
Para que pudéssemos acompanhar os animais durante todos os
procedimentos experimentais, estes foram devidamente identificados através de
marcação na orelha. A representação esquemática desta identificação pode ser
observada na figura 05.
3.5 EUTANÁSIAS
As eutanásias foram realizadas por aprofundamento da anestesia utilizando
Quetamina (100mg/kg) e um relaxante muscular, a Xilazina (10mg/kg), por via
intraperitoneal, seguidas de exsanguinação por punção cardíaca.
3.6 ANÁLISES BIOQUÍMICAS
3.6.1 Glicemia
Figura 05: Desenho esquemático representando a marcação de orelha usada para
identificação dos animais.
33
Para quantificação da glicemia, os animais foram mantidos em jejum por 10h
e ao final desse período, uma pequena amostra de sangue foi recolhida da veia da
cauda e a glicemia de jejum quantificada com o auxílio de um glicosímetro (ACCU-
CHECK Performa). Em seguida, os animais receberam, por via intraperitoneal, 2g/kg
de peso corporal de solução de glicose, na concentração de 100mg/mL para
realizarmos o teste de tolerância à glicose (TTG). A glicemia foi novamente
quantificada após 60 minutos.
3.6.2 Colesterol e Triglicérides
O sangue periférico foi recolhido após a eutanásia dos animais e armazenado
em tubos do tipo Eppendorfs, a temperatura ambiente, até a retração do coágulo.
Em seguida, o material foi armazenado em geladeira até o momento da
centrifugação. As amostras foram então centrifugadas a 14000 rpm, por 3 minutos.
Os soros foram cuidadosamente aspirados, transferidos para tubos limpos,
previamente identificados, e armazenados em freezer a – 80°C até o momento do
processamento.
Para quantificação de colesterol total e triglicérides, as amostras foram
enviadas ao Laboratório de Análise Hematológica e Bioquímica do Centro de
Biologia da Reprodução, da Universidade Federal de Juiz de Fora. As dosagens
foram realizadas através de método colorimétrico enzimático, utilizando kits
comerciais Labtest. As leituras foram realizadas através do aparelho Labmax
Progress®.
3.7 QUANTIFICAÇÃO DE LEPTINA
34
A concentração de leptina no soro e no meio condicionado de gordura (obtido
como descrito no item 3.11) foi determinada por ELISA (R&D Systems), seguindo as
recomendações apresentadas no protocolo do fabricante.
A leitura da densidade ótica foi realizada em leitor de microplacas
(SPECTRAMAX 190, Molecular Devices) a 450 nm.
Os cálculos das concentrações obtidas foram realizados a partir da curva
padrão, obtida das diferentes concentrações do anticorpo recombinante.
3.8 INDUÇÃO DO MODELO DE CÂNCER DE MAMA ORTOTÓPICO IN VIVO
Após seis ou dezesseis semanas do início da dieta, os animais receberam 5 x
104 células 4T1 (Kim et al., 2011), num volume total de 100uL, injetadas no tecido
subcutâneo, na região da primeira glândula mamária inguinal direita (Fig. 06). No
experimento em que se fez necessário a existência de grupos controle e obesos
sem tumor, os animais receberam solução fisiológica 0,9%, injetada na mesma
região e em igual volume dos animais que receberam as células tumorais.
Todos os animais continuaram sendo alimentados com as respectivas dietas
até o momento da eutanásia.
3.9 QUANTIFICAÇÃO DO VOLUME DO TUMOR
O volume tumoral foi mensurado com o auxílio de um paquímetro após 14,
17, 24 e 30 dias da indução e calculado de acordo com a fórmula: diâmetro maior x
(diâmetro menor)2 x 0,52 (KIM et al., 2011).
35
3.10 ENSAIO CLONOGÊNICO METASTÁTICO
Para realização deste ensaio, foram utilizadas células dos linfonodos
periféricos drenantes do tumor e células da medula óssea do ilíaco.
Os linfonodos foram removidos e macerados sob um pedaço de tecido de
algodão (Trama 40 – Voil) em meio DMEM suplementado com 10% de SFB.
Os ossos ilíacos foram recolhidos e incubados por 1h, a 37°C, em meio
DMEM, suplementado com 10% de SFB, 0,5mg/mL de colagenase tipo I (SIGMA-
ALDRICH) e 100ug/mL de DNAse (SIGMA- ALDRICH). Ao término da incubação, os
ossos foram macerados com o auxílio de cadinho e pistilo e o produto da maceração
foi filtrado em filtro do tipo “cell strainer” de 40um.
As suspensões celulares foram centrifugadas a 1500rpm, a 4°C, por 5
minutos. Em seguida, os “pellets” foram ressuspensos e as células contadas em
Figura 06: Desenho esquemático demonstrando a localização
anatômica das glândulas mamárias e o local de injeção das células
tumorais. (Adaptado de Murphy E.D., chapter 27 Characteristic
Tumors, in E.L. Green Ed., "Biology of the Laboratory Mouse").
36
Câmara de Neubauer, diluídas em Azul de Tripan 0,2% para avaliação da viabilidade
celular.
Em placas de cultura de 6 poços, foram plaqueadas 106 células/mL. A partir
dessa diluição, diluições seriadas foram realizadas até que se atingisse a
concentração mínima de 10 células/mL. A cultura foi mantida a 37°C e 5% de CO2
por 14 dias. Ao término desse período, os sobrenadantes foram descartados, as
placas lavadas com PBS, fixadas com Metanol e coradas com Azul de Metileno 1%.
Os aglomerados de células tumorais, corados em azul, puderam então ser
quantificados.
3.11 MEIO CONDICIONADO DE GORDURA
Para produção do meio condicionado de gordura, a gordura perigonadal foi
removida e colocada em cultura em meio DMEM não suplementado com SFB, na
proporção de 1g/mL. A cultura foi mantida a 37°C e 5% de CO2 por 24h. Ao final
deste período, o sobrenadante foi recolhido, aliquotado e mantido a -80°C até sua
utilização.
A título de ilustração, a localização anatômica das gorduras retroperitoneal e
perigonadal pode ser observada na figura abaixo (Fig. 07).
3.12 CULTURA DE CÉLULAS ESTIMULADAS COM ANTI-CD3
As células da medula óssea foram obtidas do osso ilíaco após incubação por
1h, a 37°C, em meio DMEM, suplementado com 10% de SFB, 0,5mg/mL de
colagenase tipo I (SIGMA- ALDRICH) e 100ug/mL de DNAse (SIGMA- ALDRICH) e
maceração com o auxílio de cadinho e pistilo. Em seguida, suspensão celular obtida
foi centrifugada a 1500rpm, 4°C, por 5 minutos. Os “pellets” foram ressuspensos e
37
contados em Câmara de Neubauer, excluindo-se as células inviáveis com a
utilização de Azul de Tripan 0,2%.
Uma concentração de 107 células/mL foi colocada em cultura, em placas de
96 poços, por 72h. Para essa cultura foi utilizado DMEM suplementado com 10% de
SFB e acrescido de 1ug/mL de anti-CD3. Ao final do período de cultura, as placas
foram centrifugas a 1500rpm, 4°C, por 5 minutos. Os sobrenadantes foram
recolhidos, aliquotados e armazenados a -80°C.
3.13 DOSAGEM DE CITOCINAS
A concentração de citocinas no sobrenadante de cultura de células da medula
óssea foi determinada por ELISA. Foram utilizados kits comerciais (R&D Systems)
Figura 07: Desenho esquemático demonstrando a
localização anatômica das gorduras retroperitoneais e
perigonadais. (Adaptado de (“The Anatomy of the
Laboratory Animals” – A Anatomia de Animais de
Laboratório de Margareth J. Cook, 1965)
38
das citocinas TNF-α e IL-6. Os ensaios foram realizados em duplicatas, seguindo as
recomendações dos protocolos do fabricante.
A leitura da densidade ótica foi realizada em leitor de microplacas
(SPECTRAMAX 190, Molecular Devices), a 450nm.
A quantificação das citocinas foi calculada a partir das curvas padrão, obtidas
das diferentes concentrações dos respectivos recombinantes (TNF-α e IL-6).
3.14 ANÁLISE ESTATÍSTICA
A confecção dos gráficos e as análises estatísticas foram realizadas através
do programa GraphPad Prism 5.0 (GraphPad Software). Foram utilizadas análises
de variância (ANOVA) de um fator, seguidas de pós-teste de Bonferroni. As médias
foram consideradas diferentes quando a probabilidade de serem iguais foi menor
que 5% (p ≤ 0,05), de acordo com os testes indicados.
39
4 RESULTADOS
4.1 AVALIAÇÃO DO MODELO DE OBESIDADE
Para determinar qual seria o melhor tempo de dieta capaz de induzir ganho
de peso corporal compatível com o quadro de obesidade, em camundongos BALB/c
fêmeas, os animais foram alimentados com a dieta controle ou com HFD por 16
semanas e pesados semanalmente ao longo desse período. O consumo de ração
também foi controlado.
Foi observado aumento significativo de peso dos animais alimentados pela
dieta HFD, designados como obesos, a partir da segunda semana de dieta,
conforme demonstrado na figura 08a. Durante todo o período, o consumo de ração
dos animais obesos foi menor que o dos animais controle (Fig. 08b), indicando que o
ganho de peso se deve a ingestão de uma dieta rica em lipídeos e não a hiperfagia.
Houve também aumento das gorduras retroperitoneal e perigonadal nos
animais obesos em relação aos controles a partir de 12 semanas de dieta. (Fig. 09).
40
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Controle
Obeso
** ***
*** *** *** ***
**
***
***
*** *** *** ***
***
Semanas de dieta
Pe
so
c
o
rp
or
al
(g
)
0 4 6 8 12 16
0
1
2
3
4
5
Controle
*
Obeso
** ***
**
**
***
Semanas de dieta
Co
n
su
m
o
de
ra
çã
o
(g)
/d
ia
Figura 08: Animais obesos apresentam aumento do peso
corporal sem aumentar o consumo de ração. a. Ganho de peso
corporal ao longo de dezesseis semanas de dieta. b. Consumo
médio diário de ração por animal ao longo de dezesseis semanas
de dieta. Cada ponto representa a média ± o desvio padrão (SD,
do inglês “standard deviation”). * p≤0,05; ** p≤0,01; *** p≤0,001;
significativamente diferente do grupo controle (n=25).
a.
b.
41
0.0
0.3
0.6
0.9
1.2
1.5
1.8
2.1
2.4
2.7
Obeso
Controle
8 semanas 12 semanas 16 semanas
***
***
Pe
so
(g
)
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
Obeso
Controle
8 semanas 12 semanas
**
16 semanas
***
Pe
so
(g
)
Os animais submetidos ou não a dieta também passaram por caracterização
do perfil bioquímico.
Sabendo que a obesidade e o diabetes tipo 2 são doenças fortemente
relacionadas, foi avaliado o índice glicêmico, analisando a glicemia de jejum e a
tolerância a glicose, através de TTG. Foi constatado um aumento da glicemia dos
animais obesos após receberem glicose a partir de 6 semanas de dieta (Fig. 10).
Este é um indício de menor tolerância à glicose no grupo obeso, podendo indicar
uma alteração metabólica ao nível resistência à insulina. Inoue et al., em 2012,
encontraram resultados semelhantes ao avaliar camundongos C57BL/6 alimentos
com HFD por 12 semanas.
Figura 09: Aumento do peso das gorduras retroperitoneal (a.) e
perigonadal (b.) ao longo de dezesseis semanas de dieta nos animais
obesos. Cada barra representa a média ± SD. ** p≤0,01; *** p≤0,001;
significativamente diferente do grupo controle (n=5).
≤0,0 ≤0,001
a.
b.
42
0' 0' 60' 60' 0' 0' 60' 60' 0' 0' 60' 60' 0' 0' 60' 60'
0
30
60
90
120
150
180
210
240
6 semanas 8 semanas 16 semanas12 semanas
Controle
Obeso
G
lic
em
ia
(m
g/
dL
)
*** **
*
*
A leptina, um dos principais hormônios associados à obesidade, também foi
quantificada. Conforme demonstrado na figura 11, a partir de 12 semanas de dieta,
os animais obesos já apresentavam níveis significativamente maiores de leptina no
soro, e após 16 semanas, a diferença nos níveis de leptina entre animais obesos e
controle era acentuadamente maior.
0
1000
2000
3000
4000 Controle
Obeso
*
**
*
6 semanas 8 semanas 12 semanas 16 semanas
Le
pt
in
a
(p
g/
m
L)
Figura 10: Diminuição da tolerância à glicose, com aumento da glicemia de
animais obesos. A glicemia foi quantificada em jejum (0’) e após 60 minutos do
inicío do TTG (60’). Cada barra representa a média ± SD. * p≤0,05; ** p≤0,01; ***
p≤0,001; significativamente diferente do grupo controle (n=5).
Figura 11: Aumento da concentração de leptina no soro de animais
obesos. Cada barra representa a média ± SD. * p≤0,05; ** p≤0,01;
significativamente diferente do grupo controle (n=5).
43
Os níveis de colesterol total e triglicérides também foram avaliados, visto que
há uma forte correlação entre obesidade e hiperlipidemia. Observou-se aumento do
colesterol total dos animais que receberam a dieta rica em lipídeos após 6, 12 e 16
semanas de dieta (Fig. 12). No entanto, os níveis de triglicérides foram semelhantes
entre os animais alimentados pela dieta padrão e hiperlipídica (Fig.13). O aumento
dos níveis de colesterol total e triglicérides foram observados por Inoue e
colaboradores, em 2012.
0
30
60
90
120
150
Controle
Obeso
6 semanas 12 semanas 16 semanas
*** ***
***
Co
le
st
er
o
l T
o
ta
l (m
g/
dL
)
0
50
100
150
200
Controle
Obeso
6 semanas 12 semanas 16 semanas
Tr
ig
lic
ér
id
es
(m
g/
dL
)
Figura 12: Aumento dos níveis de colesterol total nos animais alimentados
pela HFD. Cada barra representa a média ± SD. *** p≤0,001;
significativamente diferente do grupo controle (n=5).
Figura 13: Níveis de triglicérides não foram alterados pela ingestão da
HFD. Cada barra representa a média ± SD. (n=5).
44
Diante dos resultados obtidos até o momento, sugerimos que nossos animais
alimentados com uma dieta rica em lipídeos por 16 semanas desenvolveram um
quadro característico de obesidade, com aumento do peso corporal, das gorduras
retroperitoneal perigonadal, bem como alterações significativas em importantes
parâmetros bioquímicos associados à obesidade, podendo apresentar alterações
metabólicas características dessa doença. No entanto, para que pudéssemos avaliar
os possíveis efeitos da idade sobre a resposta imunológica ao tumor, animais
alimentados por 6 semanas de dieta foram também analisados.
4.2 INFLUÊNCIA DA HFD NA SOBREVIDA, NO CRESCIMENTO TUMORAL E NO
DESENVOLVIMENTO DE METÁSTASES
A disfunção metabólica característica da obesidade leva a um estado
inflamatório crônico nos indivíduos obesos. É bem documentado que este
microambiente inflamatório, rico em citocinas pró-inflamatórias, fatores de
crescimento e diversas células do sistema imunológico torna-se um ambiente
propício ao desenvolvimento de tumores (GILBERT e SLINGERLAND, 2012). Assim,
foi primeiramente avaliada a influência do consumo da HFD sobre a sobrevida
destes animais, o crescimento tumoral e o estabelecimento de metástases tumorais.
Os animais dos grupos controle e obeso receberam as respectivas dietas por
6 ou 16 semanas e ao final foram inoculados com 5 x 104 células 4T1, num volume
total de 100ul, por via subcutânea, na região da primeira glândula mamária inguinal
direita. Estes animais tiveram o peso corporal quantificado semanalmente, bem
como o consumo de ração, durante todo o período experimental. Já a partir da
segunda semana de dieta, houve um aumento do peso corporal (Fig. 14a. e 14c.). O
consumo de ração dos animais obesos foi menor que o dos controles em todo o
período (Fig.14b. e 14d). Após 6 semanas da injeção do tumor, os animais obesos
alimentados por 16 semanas, apresentaram diminuição do peso corporal, não
associada a uma menor ingestão de ração, conforme demonstrado na figura 14.
45
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
0
5
10
15
20
25
30
35
Controle
Obeso
*** *** ***
*** ***
***
*** *** ***
***
**
Injeção das
céls 4T1
Semanas de dieta
Pe
so
co
rp
o
ra
l (g
)
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
0
1
2
3
4
5
6
7
Controle
Obeso
Injeção das
céls 4T1
*
***
*** ***
***
***
***
***
***
***
***
***
Semanas de dieta
Co
n
su
m
o
m
éd
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de
ra
çã
o
(g)
/d
ia
0 6 12 16 17 18 19 20 21 22 23
0
1
2
3
4
Controle
Obeso
***
Injeção das
céls 4T1
***
***
***
***
***
***
*** ***
***
***
Semanas de dieta
Co
n
su
m
o
m
éd
io
de
ra
çã
o
(g
)/d
ia
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1011121314151617181920212223
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Controle
Obeso
Injeção das
céls 4T1
**
***
*** *** *** ***
**
***
***
*** ***
*** ***
***
***
*** ***
***
***
Semanas de dieta
Pe
so
c
o
rp
o
ra
l (
g)
Ao avaliarmos a sobrevida dos animais controles e obesos, alimentados
durante 6 semanas de dieta, após receberem as células tumorais, observamos
menor percentual de sobrevivência dos animais controles em torno de 40 dias após
a injeção do tumor (Fig. 15a.). No entanto, a sobrevida dos animais obesos
alimentados durante 16 semanas de dieta foi menor que a dos animais controles,
embora não tenham sido observadas diferenças significativas (Fig. 15b.). Aos 44
dias após a injeção do tumor, 33% dos animais controles ainda sobreviviam, contra
22% de obesos. Aos 55 dias, a sobrevida de controles era de 22%, enquanto que a
de obesos era de apenas 11%. Essa menor sobrevida dos animais obesos,
alimentados por um longo período com uma dieta rica em lipídeos, pode estar
associada a um pior prognóstico tumoral, com aumento de metástases, favorecido
pelo estado inflamatório gerado pelo acúmulo de tecido adiposo.
Figura 14: Animais alimentados pela HFD durante 16 semanas apresentam diminuição do peso corporal
após a injeção do tumor. a. Peso corporal (g) dos animais alimentados durante 6 semanas. b. Consumo
de ração (g/dia) dos animais alimentados por 6 semanas. c. Peso corporal (g) dos animais
acompanhados durante 16 semanas de dieta. d. Consumo de ração (g/dia) dos animais acompanhados
durante 16 semanas de dieta. Cada ponto representa a média ± SD. ** p≤0,01; *** p≤0,001;
significativamente diferente do grupo controle (n=20).
a. b.
c. d.
46
0 10 20 30 40 50 60
0
20
40
60
80
100
120
Controle
Obeso
Dias
So
br
ev
id
a
(%
)
0 10 20 30 40 50 60
0
20
40
60
80
100
120
Controle
Obeso
Dias
So
br
ev
id
a
(%
)
A fim de avaliar a influência da obesidade no tamanho do tumor e no
desenvolvimento de metástases nestes animais, tanto nos alimentados durante 6
semanas quanto nos alimentados por 16 semanas, os mesmos foram eutanasiados
após 14, 17, 24 e 30 dias da injeção do tumor. A gordura perigonadal foi removida e
pesada. Foi observada diminuição do peso da gordura perigonadal dos animais
obesos com o avanço do estágio de desenvolvimento do tumor (Fig. 16).
Figura 15: Mortalidade de animais controles e obesos, alimentados por 6 (a.)
ou 16 semanas de dieta (b.), após receberem as células tumorais.
Todos os animais receberam 5x104 células 4T1 e tiveram a mortalidade
avaliada pela curva de sobrevida de Kaplan-Meier. (n=10)
a.
b.
47
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
1.2
1.4
1.6
1.8
2.0
Controle
Obeso
14 dias 17 dias 24 dias 30 dias
***
***
*
#
Pe
so
G
o
rd
.
PG
(g
)
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
1.2
1.4
1.6
1.8
2.0
2.2
2.4
2.6
14 dias 17 dias 24 dias 30 dias
Controle
Obeso
#
***
***
***
Pe
so
G
o
rd
.
PG
(g)
*
O peso e o volume tumoral foram avaliados e, com o avanço da doença,
houve aumento significativo do peso e do volume do tumor dos animais obesos
acompanhados durante 16 semanas de dieta, conforme demonstrado nas figuras
17c. e 17d., respectivamente.
Figura 16: Peso da gordura perigonadal (PG) dos animais alimentados por 6 (a.) ou
16 semanas de dieta (b.) após receberem o tumor. Cada barra representa a média ±
SD. * p≤0,05; *** p≤0,001; significativamente diferente do grupo controle. # p≤0,05,
quando os grupos de 14 e 30 dias foram comparados (n=5).
a.
b.
48
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
1.2
1.4
1.6
1.8
Controle
Obeso
14 dias 17 dias 24 dias 30 dias
Pe
so
do
tu
m
o
r
(g)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
4.0
4.5
5.0
5.5
6.0
Controle
Obeso
14 dias 17 dias 24 dias 30 dias
Vo
lu
m
e
do
tu
m
o
r
(cm
3 )
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
1.2
1.4
14 dias 17 dias 24 dias
Controle
Obeso
30 dias
***
Pe
so
do
tu
m
o
r
(g)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
14 dias 17 dias 24 dias 30 dias
Controle
Obeso
***
Vo
lu
m
e
do
tu
m
o
r
(cm
3 )
Uma vez que os animais obesos alimentados durante 16 semanas
apresentavam tumor de maior peso e de maior volume quando comparados aos
animais controle, inferimos que apresentariam também mais metástases ósseas e
isso foi comprovado através do Ensaio Clonogênico Metastático. Interessantemente
um aumento progressivo dos clones de células 4T1 foi observado na medula óssea
dos animais obesos, com diferença significativa em relação aos controles após 30
dias da injeção do tumor (Fig. 18). Resultados semelhantes foram observados ao se
avaliar a existência de metástases no linfonodo inguinal, drenante do tumor (Fig. 19),
no entanto, por se tratar da análise de um único experimento onde foi obtido um
“pool” de linfonodos, não foi realizado nenhum teste estatístico.
Figura 17: Animais obesos alimentados durante 16 semanas de dieta apresentam tumores de
maior peso e volume. a. – b. Peso e volume do tumor de animais acompanhados durante 6
semanas de dieta. c. – d. Peso e volume do tumor de animais acompanhados durante 16 semanas
de dieta. Os diâmetros do tumor foram mensurados com o auxílio de um paquímetro e o volume
calculado aplicando-se a fórmula: (diâmetro maior) x (diâmetro menor)2 x 0,52. Cada barra
representa a média ± SD. *** p≤0,001; significativamente diferente do grupo controle (n=5).
a. b.
c. d.
49
14 17 30
0
20
40
60
80
Controle
Obeso
Dias após injeção do tumor
N
úm
er
o
de
cl
o
n
es
x
10
6
cé
ls
14 17 30
0
10
20
30
40
Controle
Obeso
*
Dias após injeção do tumor
N
úm
er
o
de
cl
o
n
es
x
10
6
cé
ls
Figura 18: Animais obesos, alimentados durante 16 semanas de dieta,
apresentam aumento de metástases na medula óssea. a. Clones de células
tumorais presentes na medula óssea dos animais alimentados durante 6 semanas
de dieta. b. Clones de células tumorais presentes na medula óssea dos animais
alimentados durante 16 semanas de dieta. Cada ponto representa a média ± SD.
* p≤0,05; significativamente diferente do grupo controle (n=5).
a.
b.
50
14 17 30
0
20
40
60
Controle
Obeso
Dias após injeção do tumor
N
úm
er
o
de
cl
o
n
es
x
10
6
cé
ls
14 17 30
0
20
40
60
80
Controle
Obeso
Dias após injeção do tumor
N
úm
er
o
de
cl
o
n
es
x
10
6
cé
ls
A diminuição da gordura perigonadal dos animais alimentados com a HFD por
16 semanas, associada também a diminuição do peso corporal, pode demonstrar
estado de caquexia dos animais, acompanhado de grande número de metástases
tumorais. A este estágio avançado de doença também pode ser associada a maior
mortalidade dos animais obesos alimentados durante 16 semanas de dieta, mesmo
que não significativa.
Figura 19: Animais obesos tendem a apresentar mais metástases no linfonodo inguinal
drenante do tumor. a. Clones de células tumorais presentes no linfonodo drenante do
tumor dos animais alimentados durante 6 semanas de dieta. b. Clones de células
tumorais presentes no linfonodo drenante do tumor dos animais alimentados durante 16
semanas de dieta Resultados apresentados sem análise estatística, uma vez que são
referentes a um ensaio realizado com um “pool” de linfonodos.
a.
b.
51
Em conjunto, estes resultados podem indicar a existência de um carcinoma
mamário mais agressivo nos animais obesos, acompanhados durante 16 semanas
de dieta, quando comparados aos controles.
4.3 INFLUÊNCIA DA HFD NO PERFIL DE CITOCINAS PRÓ INFLAMATÓRIAS
Diversos trabalhos demonstram uma correlação positiva entre níveis alterados
de citocinas inflamatórias, obesidade e desenvolvimento de tumores. Desta forma,
nós avaliamos o perfil das citocinas pró-inflamatórias IL-6 e TNF-α, bem como os
níveis de leptina, dos animais controle e obesos em dois estágios de
desenvolvimento do tumor.
A leptina é o principal hormônio associado à obesidade. Derivada,
principalmente, do tecido adiposo, é capaz de induzir a secreção de citocinas como
IL-6 e TNF-α, além de alterar perfis de diversas células do sistema imunológico. A
quantificação dos níveis de leptina no meio condicionado de gordura dos animais
acompanhados durante 16 semanas de dieta e que receberam ou não células
tumorais, demonstrou que os animais alimentados com a dieta HFD apresentaram
níveis significativamente maiores de leptina (Fig. 20). Os animais que receberam as
células tumorais, aos 35 dias após a injeção do tumor, tempo em que foi observado
estágio avançado de desenvolvimento do tumor, com grande número de
metástases, apresentaram drástica redução dos níveis de leptina, associada
também a diminuição da gordura perigonadal nestes mesmos animais, conforme
demonstrado na figura 16. Estes achados indicam que a leptina pode ter papel
crucial no estabelecimento e na progressão inicial do tumor, induzindo fatores de
crescimento capazes de favorecer o desenvolvimento de metástases. Além disso, foi
demonstrado por Wazir e colaboradores, em 2012, a expressão de leptina e seu
receptor em amostras do carcinoma mamário humano MCF-7, sugerindo que esta
pode estar envolvida na progressão tumoral.
52
0
5000
10000
15000
20000
25000
14d ST 14d 4T1 35d ST 35d 4T1
Controle
Obeso
***
***
***
#
*Le
pt
in
a
(pg
/m
L)
Ao avaliarmos os níveis de IL-6 nos sobrenadantes de cultura da medula
óssea do ilíaco, observamos que os animais obesos, alimentados por 16 semanas,
que receberam tumor, após 35 dias da injeção do mesmo, apresentaram diminuição
significativa da expressão desta citocina (Fig. 21b.). Os animais alimentados durante
6 semanas não apresentaram diferenças significativas na expressão desta citocina
(Fig. 21a.).
Figura 20: Animais obesos apresentam maior expressão de leptina no meio
condicionado de tecido adiposo. As análises foram realizadas em animais
controles e obesos, acompanhados durante 16 semanas de dieta, sem tumor
(ST) e com tumor (4T1), após 14 e 35 dias da injeção do tumor (14d e 35d).
Cada barra representa a média ± SD. * p≤0,05; *** p≤0,001; significativamente
diferente do grupo controle; x p≤0,001, quando os grupos obesos de 35 dias
foram comparados entre si; # p≤0,001, quando o grupo obeso com 14 dias de
tumor foi comparado ao grupo obeso com 35 dias de tumor. (n=5).
53
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
14d ST 14d 4T1 35d ST 35d 4T1
Controle
Obeso
IL
-
6
(pg
/m
L)
0
100
200
300
400
500
600
700
800
14d ST 14d 4T1 35d ST 35d 4T1
Controle
***
IL
-
6
(p
g/
m
L)
Obeso
A expressão de TNF-α também foi alterada. A análise desta citocina no
sobrenadante de cultura de medula óssea do ilíaco revelou que os animais obesos
alimentados por 16 semanas e que receberam o tumor apresentaram diminuição da
expressão TNF-α, tanto aos 14 quanto aos 35 dias após a injeção do tumor (Fig.
22b.). Não foram observadas diferenças significativas na expressão desta citocina
na cultura de medula óssea dos animais acompanhados durante 6 semanas de dieta
(Fig. 22a.).
Figura 21: Expressão alterada de IL-6 em cultura de medula óssea do ilíaco. As
análises foram realizadas em animais controles e obesos, alimentados durante 6 (a.)
ou 16 semanas (b.), sem tumor (ST) e com tumor (4T1), após 14 e 35 dias da injeção
do tumor (14d e 35d). Cada barra representa a média ± SD. *** p≤0,001;
significativamente diferente do grupo controle; (n=5).
b.
a.
54
0
50
100
150
200
250
14d ST 14d 4T1 35d ST 35d 4T1
Controle
Obeso
TN
F-
(pg
/m
L)
0
500
1000
1500
2000
2500
14d ST 14d 4T1 35d ST 35d 4T1
Controle
***
*
*
TN
F-
(pg
/m
L)
Obeso
Conforme demonstrado, aos 35 dias após a injeção do tumor, houve
diminuição significativa da gordura perigonadal, dos níveis de leptina, TNF-α e IL-6.
Desta forma, parece que a leptina, aliada a outras alterações, possui papel
fundamental no desenvolvimento de tumores dos animais obesos.
Figura 22: Expressão de TNF-α no sobrenadante de cultura de medula óssea do
ilíaco de animais acompanhados durante 6 (a.) ou 16 semanas de dieta (b.). As
análises foram realizadas em animais controles e obesos, sem tumor (ST) e com
tumor (4T1), após 14 e 35 dias da injeção do tumor (14d e 35d). Cada barra
representa a média ± SD. * p≤0,05; *** p≤0,001; significativamente diferente do
grupo controle; (n=5).
b.
a.
55
5 DISCUSSÃO
A obesidade atingiu proporções epidêmicas em todo o mundo. Comumente
associada a países de alta renda, a obesidade é também prevalente em países de
renda baixa e média. Estima-se que pelo menos 2,8 milhões de pessoas morram a
cada ano como resultado de excesso de peso ou obesidade. Além disso, 44% dos
casos de diabetes , 23% dos casos de doenças isquêmicas do coração e entre 7% e
41% de determinados casos de câncer são atribuídos ao excesso de peso e
obesidade (WHO, 2013).
O desenvolvimento de tumores, como por exemplo, o câncer de mama, está
altamente associado a inflamação e as alterações imunometabólicas características
dos quadros de obesidade. Contudo, novos estudos ainda são necessários para
entender esta complexa relação.
No presente estudo, foi avaliado o impacto da obesidade no estabelecimento
do tumor de mama e metástases, a partir do perfil imunológico do animal obeso que
recebeu a linhagem de célula tumoral 4T1.
Primeiramente, o ganho de peso corporal, a ingestão alimentar, o ganho de
gordura retroperitoneal e perigonadal, a glicemia e o perfil lipídico de animais
alimentados com dieta controle ou HFD ao longo de 16 semanas foi analisado.
Em 2010, Olson e colaboradores caracterizaram os camundongos BALB/c
como animais resistentes a obesidade por apresentarem um pequeno ganho de
peso corporal ao serem alimentados com HFD por um longo período. Kim e
colaboradores (2011) e Zhao e colaboradores (2013) compartilharam esta ideia.
Nossos resultados demonstram ganho de peso corporal nos animais HFD
comparados aos controles já a partir da segunda semana de dieta, além de menor
consumo de ração por esses animais; aumento de peso das gorduras retroperitoneal
e perigonadal a partir de 12 semanas de dieta; menor tolerância à glicose; aumento
dos níveis de leptina e colesterol total, corroborando os resultados apresentados em
estudos realizados com camundongos C57BL/6, alimentados com HFD por
diferentes períodos (KIM et al., 2011; INOUE et al., 2012). As alterações de peso
corporal, gordura retroperitoneal e perigonadal, além de alterações em importantes
56
parâmetros bioquímicos associados à obesidade, caracterizam os animais
alimentados com HFD como obesos.
Ao observar a influência da HFD na sobrevida dos animais, no crescimento
tumoral e no estabelecimento de metástases, foi observado que os animais obesos,
alimentados pela HFD durante 16 semanas, apresentaram menor sobrevida, embora
sem significância estatística, aumento do peso e do volume do tumor, bem como
aumento dos clones de células tumorais na medula óssea do ilíaco. Estes animais
também apresentaram diminuição do peso corporal e da gordura perigonadal,
sugerindo um estado de caquexia associado ao avanço do tumor. Em conjunto,
estes resultados indicam de que os animais obesos apresentam carcinoma mais
agressivo quando comparados aos controles.
Kim e colaboradores, em 2011, observaram aumento de nódulos tumorais no
pulmão e no fígado de animais que receberam células 4T1 e foram alimentados com
HFD, além de maior volume e peso do tumor desses animais, e menor sobrevida,
ratificando nossos resultados.
Ainda, Zhao e colaboradores, em 2013, ao avaliar a influência da ingestão de
HFD no desenvolvimento da glândula mamária durante a puberdade, observaram
que os animais alimentados pela HFD e tratados com 7,12- dimetilbenz(a)antraceno
(DMBA), um agente tumorigênico, apresentaram aumento do número de eosinófilos
na glândula mamária, aumento do número de lesões epiteliais anormais, maior
proliferação celular, aumento de RANKL nas células epiteliais na mama, aumento da
vascularização e de macrófagos M2 quando comparados aos animais que
receberam a dieta padrão. Entretanto, os animais alimentados pela HFD não
apresentaram ganho significativo de peso corporal, assim como não apresentaram
grandes alterações nos níveis de glicose, insulina, estrógeno e progesterona.
A ingestão de HFD também foi associada ao aumento dos níveis de Ki67,
ciclina A e D1, Bcl-x, Bcl-2, CD31, VEGF no tecido tumoral, além de alterações nos
níveis séricos de insulina, IFN-Ȗ, leptina e MCP-1. O crescimento de tumores
sólidos, o número e o volume dos nódulos tumorais no pulmão dos animais
alimentados pela HFD também foram aumentados, observando-se discreto aumento
do peso corporal (PARK et al., 2012).
Ao avaliar os efeitos da HFD sobre a progressão do câncer de mama da
linhagem celular MCF-7 em camundongos BALB/c atímicos, Lamas e colaboradores,
2013, observaram que, apesar de não apresentarem aumento do peso corporal, nos
57
animais alimentados pela HFD o crescimento tumoral foi aumentado, bem como a
expressão de Ki67, um marcador de proliferação celular; enquanto que a
citoxicidade de células NK do baço foi diminuída, demonstrando que a ingestão da
HFD pode contribuir para a modulação de diversas funções celulares.
A literatura mostra evidências indicando que na obesidade há uma diminuição
da maturação de pré-adipócitos em adipócitos, bem como uma ruptura do equilíbrio
de duas grandes adipocinas: a leptina e a adiponectina. A adiponectina é anti-
angiogênica, anti-proliferativa e promove a maturação de adipócitos. Adipócitos
maduros produzem leptina e adiponectina, enquanto que pré-adipócitos secretam
altos níveis de leptina (SIMONS et al.,2005; VONA-DAVIS e ROSE, 2009).
Em indivíduos obesos, há alta expressão de leptina e baixa expressão de
adiponectina. Na inflamação crônica em obesos, as citocinas pró-inflamatórias, tais
como TNF-α, IL-1ȕ e IFN-Ȗ tem a capacidade de bloquear a maturação dos pré-
adipócitos, aumentando ainda mais a produção de leptina. (SIMONS et al.,2005). A
alta concentração de leptina no local atrai monócitos e promove a conversão destes
em macrófagos. Os macrófagos contribuem para a produção local de citocinas pró-
inflamatórias e fatores pró-angiogênicos (NAUGLER e KARIN, 2008; VONA-DAVIS e
ROSE, 2009; ROBERTS, DIVE e RENEHAN, 2010).
A produção de citocinas pelos pré-adipócitos pode ser estimulada pelos
elevados níveis de ácidos graxos circulantes observados em obesos. Os ácidos
graxos circulantes, por sua vez, podem ativar a sinalização via receptor Toll-like 4
(TLR4) e aumentar a secreção de IL-6, CCL2, CCL5 e CCL11, prejudicando a
diferenciação dos pré-adipócitos em adipócitos (POULAIN-GODEFROY e
FROGUEL, 2007).
Muitos estudos têm demonstrado que o aumento dos níveis circulantes de IL-
8, IL-6, CCL2 e CCL5 estão associados a um pior prognóstico em casos de câncer
(revisado por GILBERT e SLINGERLAND, 2012).
A IL-6 é uma citocina pró-inflamatória envolvida em diversos processos
fisiológicos e patológicos do organismo, tais como: respostas imunes, hematopoiese,
respostas de fase aguda e inflamação. Pode também atuar como fator de
crescimento de tumores, contribuindo para a recorrência e metástases de câncer de
mama, inibindo a apoptose das células tumorais, promovendo a angiogênese e
aumentando a adesão de células tumorais disseminadas (SEMESIUK et al., 2013;
TRIPSIANIS et al., 2013).
58
O TNF-α tem sido demonstrado como um dos principais mediadores
inflamatórios e é capaz de alterar a expressão de fatores de crescimento e outras
citocinas através de diversas vias de transdução de sinais (SEMESIUK et al., 2013).
Soria e colaboradores, em 2011, demonstraram que o TNF-α é pouco expresso
pelas células epiteliais mamárias normais, mas sua incidência é significativamente
elevada em células tumorais, indicando que esta citocina pode estar relacionada à
progressão do câncer de mama.
Foi demonstrado por Lysaght e colaboradores, em 2011, que o aumento de
leptina e TNF-α induz a secreção de IL-6 pelos adipócitos e esta secreção
aumentada de IL-6 está relacionada à transcrição de proteínas sinalizadoras ligadas
a proliferação e invasão de células tumorais. Além disso, a capacidade de animais
obesos apresentarem tumores de cólon mais proeminentes foi associada a maior
expressão de TNF-α, demonstrado por Flores e colaborados, em 2012.
Nossos resultados demonstram redução da expressão de IL-6 e TNF-α no
sobrenadante de cultura de medula óssea dos animais obesos, alimentados durante
16 semanas de dieta, aos 35 dias após a injeção do tumor. Associada a diminuição
destas citocinas, foi observada redução de cerca de três vezes na expressão de
leptina no meio condicionado de gordura quando os animais obesos com 14 dias de
tumor foram comparados aos obesos com 35 dias de tumor.
O perfil de citocinas pró-inflamatórias apresentado em nossos experimentos
contradiz diversos trabalhos que demonstram aumento da expressão dessas
citocinas associado à obesidade e ao desenvolvimento de tumores. No entanto, é
possível que a leptina, aliada a outras alterações, seja a principal molécula
associada ao maior volume e peso do tumor nos animais obesos, e também uma
molécula modulatória importante nas metástases ósseas observadas nestes
animais, visto que alguns estudos têm demonstrado uma correlação entre maior
expressão do receptor de leptina (Ob-R), altos níveis de leptina e pior progressão
tumoral. Em 2004, Ishikawa, Kitayama e Nagawa ao avaliarem amostras de
pacientes observaram que 83% das amostras de carcinoma ductal invasivo
expressavam o receptor Ob-R, além de uma super expressão leptina em 91% dos
casos e desenvolvimento de metástases em 34% dos pacientes cujas amostras
expressavam Ob-R. Wazir e colaboradores, em 2012, também observaram maior
expressão de leptina e seu receptor em amostras de câncer de mama,
demonstrando que a leptina desempenha um papel significativo no processo de
59
carcinogênese da mama. Park e colaboradores, em 2010, ao avaliarem a ação
fisiológica da leptina periférica no microambiente tumoral, observaram que na
ausência do Ob-R, há uma diminuição da fosforilação de resíduos de tirosina e um
aumento da fosforilação de resíduos de serina, preservando a função mitocondrial e
prevenindo, desta forma, a agressividade tumoral. Também foi observado por
Frankenberry e colalaboradores (2006) que altos níveis de leptina circulante
contribuem para a proliferação do câncer de mama, ativando vias de sinalização de
MAPK e PI3K, envolvidas no crescimento e na sobrevivência celular. Vale ressaltar
que os níveis de adiponectina podem influenciar diretamente a relação entre leptina
e pior prognóstico tumoral dos animais obesos. Contudo, acreditamos fortemente
que, em nosso modelo de estudo, a leptina desempenha um papel central no
estabelecimento do tumor e no desenvolvimento de metástases, o que nos leva a
desenhar o seguinte esquema:
Figura 23: Aumento dos níveis séricos de leptina pode favorecer o estabelecimento do tumor e o
desenvolvimento de metástases. Animais alimentados pela HFD durante 16 semanas de dieta
apresentam tumores de maior peso e maior volume, aumento de metástases ósseas e diminuição
dos níveis das citocinas pró-inflamatórias IL-6 e TNF-α após a disseminação do tumor.
60
6 CONCLUSÃO
Os resultados obtidos com este trabalho nos permitem concluir que a ingestão
de uma dieta rica em lipídeos por um longo período é capaz de induzir alterações
metabólicas características de quadros de obesidade em camundongos BALB/c
fêmeas e pode aumentar a progressão do câncer de mama, aumentando o número
de metástases ósseas e a mortalidade associada a este câncer. Neste sentido, a
obesidade atua como um fator de pior prognóstico neste tipo de patologia, podendo
ser a leptina uma importante adipocina moduladora do estabelecimento tumoral e
metástases. Entretanto, estudos que avaliem os mecanismos celulares e as
possíveis vias de sinalização envolvidas na migração e proliferação das células
tumorais em animais obesos ainda se fazem necessários.
61
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